Tudo começa mas nem sempre tem meio ou fim.
Era meia noite. Nem precisava olhar no relógio porque ele sempre acordava a meia noite. Nem um minuto a mais, nem um minuto a menos. Costumava dizer nunca se atrasar.
Abriu a carteira pra ver quantos cigarros ainda sobravam. Não muitos, resmungou abrindo uma cerveja, esta imediatamente amaldiçoada por estar quente.
Meia noite e cinco. O habitual “toc toc” da meia noite e cinco minutos.
- Ruivo, abre a porta. Trouxe cerveja e cigarro.
Levanta-se pra abrir a porta, o amigo entra. O som do lacre da cerveja podia ser escutado por um surdo, tal o silêncio entre os dois amigos.
- Tenho que falar sério com você.
- Não vou te emprestar mais dinheiro.
- Ouça o que tenho a dizer. Dessa vez é importante.
- Fale a verdade, você só quer comprar drogas.
- Olha, tenho negócios, uma oportunidade da China. Só preciso de um “cash” inicial. Além disso, vou te pagar com juros e tudo mais.
- Não adianta. Não tenho dinheiro.
- Ah, vá pro inferno. Pra que você serve então?
- Além de te emprestar dinheiro, sirvo pra emprestar discos que você também não devolve. Por falar nisso, onde anda o Surfer Rosa?
- Ah... foi bom você ter tocado nesse assunto. Tava devendo a uns caras “barra pesada”. Eles foram lá e quebraram a casa toda.
Novo silêncio. Ruivo estava visivelmente furioso mas nada parecia abalado na relação dos dois. De repente sorriu. Gostou de pensar que já estava acostumado.
- Tá certo, tenho um aqui. Tá afim?
- Demorô!
- Tá bom, pelo menos vai mudar o cd. Já to de saco cheio de Yes. Fred, você não disse que ia sair com sua namorada nova hoje?
“Ding Dong” soou a cigarra e Fred rumou em direção a porta tendo em mãos o disco do Clash que ia por pra tocar. Abre a porta. Uma mulher esperava com uma garrafa de uísque e uma caixa de pizza em mãos.
- A pizza chegou, gatinho.
- Ruivo, chegou uma mulher aqui com bebida e pizza. É sua mãe?
Ao som de David Bowie – Modern Love